sábado, 13 de agosto de 2005

Exclusivo: música era código cifrado para convocar parlamentares às orgias regimentares

Esquema envolve vendagem de CDs, shows e participação em programas de auditório

Por Olvídio Mor Horelhãns
Com inestimável colaboração da produção do programa Super Lobby, da Rede VT!

A CPI Misto Quente (CPIMQ) dos Correios identificou depósitos nas contas do ex-magricela, ex-marido da ex-apresentadora de programa infantil Kelllyiyi Kiko, o cantor Latindo. Seria a prova final para descobrir como parlamentares eram convocados para orgias regimentares em um hotel em Brasília. “Latindo teria sido supostamente convidado a compor um hit [música de sucesso estrondoso] que serviria de código para a próxima reunião de trabalho”, assegurou o atual sexy symbol da CPIMQ, deputado ABCDM Nettto (pefelê-BA).

O esquema era discreto. Sempre que havia necessidade de convocação para discussões carnais, alto-falantes instalados estrategicamente no plenário da Câmara e do Senado reproduziam o sucesso nacional, internacional e em Santo André e região “Testa no Apê”. “Ah, é por isso que ficava aquele alvoroço!”, exclamou um deputado mané que acreditou na seriedade de sua função. Após a convocação, formava-se o trenzinho da alegria e todos seguiam a seus afazeres.

Na tela
As festas ocorriam no Hotel Sodoma Garden & Gomorra Plaza, onde suítes de andares inteiros eram reservadas. Fitas do circuito interno de TV do estabelecimento revelam hora, dia, mês e ano do momento exato da chegada dos congressistas ao local. “Eles saiam de seus carros com os dedinhos apontados para o alto, dançando e cantando”, detalhou Nettto.

Técnicos em leitura labial foram convocados às pressas pela CPIMQ. A conclusão do laudo é categórica: “entoavam o grande sucesso de pública e crítica ‘Testa no Apê’”. A Comissão já tem a lista com os nomes de todos os fanfarrões. Porém, falta separar quem fez uso de Vinagra, medicamento para melhora do desempenho parlamentar. “Os colegas são muito competitivos”, explicou o deputado baiano.

A reportagem d’A Primeira Vítima perguntou ao falastrão ABCDM Nettto se ele não temia estar envolvido no esquema. Sorrindo, disse: “prefiro axé-music”. Convencido, o repórter que vos escreve se deu por satisfeito e encerrou a entrevista.

O outro lado
A CPIMQ já convocou o cantor Latindo para depor. Ele se diz desolado. Chorando muito, declarou que se sente traído. “Eles [os congressistas] me prometeram que o meu sucesso [‘Testa no Apê’] receberia o 'Troféu Impresso' deste ano.” O cantor se referia ao oscar da TV nacional idealizado pelo ex-seqüestrado, o animador Sylvyio Prantos. E cravou: “não se brinca com os sonhos de uma pessoa”. A última edição do prêmio foi ao ar no dia 30 de julho. Na categoria “melhor música” venceu “Vou deixa”, da banda mineira Espanque.

Orientado por seu advogado, Latindo adiantou a base de sua defesa à Comissão. “Nunca pensei em dinheiro. Sempre lutei para ser reconhecido como um grande artista brasileiro.” O cantor alega também que nunca participou de nenhum esquema. A composição da música, segundo ele, foi um momento de “rara inspiração”, do ilustre desconhecido Gecé Filho. “Nunca ouvi falar desse meu amigo, irmão mesmo, Calvus Valério”, assegurou. Após esta declaração o defensor de artista desistiu do caso, dizendo “assim não dá”.

Conexão “Testa no Apê”
A Comissão já tem organizado todo o esquema musicado por Latindo. Primeiro, para não chamar a atenção de jornalistas que cobrem o Congresso Nacional, a melodia seria levada à nação via CDs, shows e participação em programas de auditório. Mediante jabá, valor pago pelo artista ou gravadora para execução ou participação em programas de rádio e TV, Latindo seria alçado aos veículos de comunicação de massa para agradar a massa.

O segundo passo seria adotar o hit no circuito interno de som do Congresso. É aí que entra o ex-publicitário e futuro vendedor de bananas Calvus Valério. “Com a naturalidade do sucesso, ninguém perceberia a nossa estratégia”, disse Valério. A CPI quer saber ainda se todo o jabá, figurino e produção artística de Latindo teria sido bancados pelo operador. Latindo nega.

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