quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Exclusivo: Tapioca foi superfaturada

A Primeira Vítima revela detalhes da armação

No detalhe, a prova completa e acabada do crime: a tapioca

DO ENVIADO ESPECIAL

Esfomeada e com muita água na boca, a reportagem de A Primeira Vítima visitou o estabelecimento em que o ministro do Ex-sorte, Gastando Silva, adquiriu – sem licitação – e depois consumiu uma tapioca por R$ 8,30. Constatou-se que se trata de uma fraude.

O método investigativo foi simples. O repórter adentrou ao local com cara de quem não queria nada. Avaliou as instalações e sentou-se na melhor mesa. Em seguida, o garçom se aproximou, em seu primeiro dia de trabalho. “Bom dia. O senhor já escolheu?”

O repórter percebe a manobra de intimidação, mas não se intimida. “São 12h01. Portanto, é boa tarde que se fala!” O garçom sente o golpe. “O senhor tem razão...” E tenta contornar a situação valendo-se de um belo clichê. “Aliás, o freguês tem sempre razão!” O repórter se anima. Sente que é o senhor da situação.

E mais: percebe que sua linha investigatória está no caminho certo. Prossegue. “Qual é a especialidade da casa?” O sujeito, totalmente dominado, é categórico. “Tapioca.” O repórter mantém a serenidade facial, mas vibra por dentro. “Vou querer degustar uma delas.” (Utilizar o “por favor” no começo da frase nem pensar.)

Minutos depois, chega a iguaria. Uma delícia. O garçom pergunta. “Satisfeito, senhor?” O repórter percebe a nova manobra para tentar tirá-lo do foco da investigação e comenta: “Razoável”. O garçom demonstra novo abatimento.

O repórter, confiante, pede a conta. “Por favor, senhor, pode se dirigir ao caixa.” Desconfiado, a reportagem mantém a serenidade. Para completar sua investigação, utiliza o mesmo expediente do ministro: apresenta um cartão para pagar a conta.

“São oito reais”, diz o rapaz que está no caixa. O repórter identifica imediatamente a fraude. O ministro superfaturara o produto em 30 centavos. Perfeito. “Débito ou crédito?” “Débito.” “O senhor poderia me fazer uma notinha?” “Claro.” O procedimento leva 20 segundos. O instinto jornalístico fala mais alto. “Rápido, não?” “Eu sempre forneço nota fiscal. Tô acostumando.”

Já entrosado com o dono do estabelecimento, comenta: “Esteve aqui um senhor [descreve fisicamente o ministro], nem alto nem baixo, nem gordo nem magro, essas coisas. Ele é meu amigo e me disse que pagou R$ 8,30 pela tapioca.” E questiona: “O preço abaixou?”.

“Não, ele deve ter pedido para eu acrescentar os trinta centavos na nota.” O repórter delira por dentro, mas fica com cara de paisagem por fora. (Neste instante, ele pensa na promoção, prometida há 12 anos.) Despede-se, e ao chegar à esquina dá aquele famoso salto, batendo os dois calcanhares no ar.

Adentra à redação, radiante. Senta-se e senta o dedo no teclado. A matéria está pronta em 18 segundos, com título, linha fina, fotos, infográficos, especialistas ouvidos, com sabia mais, menos ou tanto faz. “Falta ouvir o outro lado”, lembra um desgraçado de um estagiário. “Putz, é mesmo.”

A reportagem liga para a assessoria do ministro torcendo para não atenderem. Atendem. Ele narra o que descobriu. “É bombástico”, finaliza. Assessores se agitam. Dois minutos depois, o ministro, pessoalmente, é quem fala com ele: “Por favor, não publique. Só quis ajudar o estabelecimento.”

Impassível, o repórter manda essa: “Já era. Perdeu. Perdeu.”. E publica, feliz, mais uma de suas tantas reportagens investigativas. Resultado final: o garçom foi demitido; no horizonte não há nem sombra da promoção; e o ministro continua firme e forte porque ninguém lê a porra deste blog, ops, portal de notícias.

3 comentários:

Anônimo disse...

Hahahahaha! Sensacional! Especialmente o "Já era. Perdeu. Perdeu."

John Renner disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
John Renner disse...

Tive que levantar da cadeira e aplaudir no final do texto.
Talvez a promoção acabe saindo, afinal...